4 de jan. de 2012

O que é Adoração?




   Na bíblia hebraica o ato de adoração exprime-se sobretudo pelo verbo histahawah (curvar-se; inclinar-se profundamente). No grego correspondente a esse termo, da versão dos LXX e do Novo Testamento, significa prostrar-se, beijando o chão; venerar; adorar. Daí o termo proskynésis (oração).  Diante do divino, do sagrado e sublime que ele experimenta como sobre-humano, o homem se prostra: faz-se pequeno e submete-se.  No AT o único objeto da adoração é Javé (Ex 20, 3.5; Dt 5, 9; Sl 86, 9; 95, 6). Segundo o Novo Testamento o Pai procura quem o adore em espírito e verdade (Jo 4, 20-24; cf. Mt 4, 9s; Apoc 4, 10; 7, 11, etc). Mas ao mesmo tempo exige-se adoração para o Senhor glorificado (Fl 2, 10s; Hb 1,6; Apoc 5, 14; Mt 28, 9.17).
   Justiça seja feita. Devemos “dar a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21c). E quando falamos em justiça, não queremos reduzir o termo a conceitos legalistas; falamos da justiça que vem do amor, pois só o amor dá sentido às coisas. A adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso. ‘Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto’ (Lc 4, 8), diz Jesus, citando o Deuteronômio (6, 13).


   Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer “o nada da criatura”, que não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-lo, exaltá-lo e humilhar-se a si mesmo, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que Seu Nome é Santo. A adoração do Deus Único liberta o homem de se fechar em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo”. (Catecismo da Igreja Católica, 2096).

   Quem adora a Deus O coloca como centro, fundamento e garantia de sua existência, e, livremente, O adora em espírito e em verdade, na fé e na vida, sem relação dicotômica entre estas, mas unidas e inseparáveis. O verdadeiro adorador é, não obstante suas limitações (comuns a todos os homens), ciente de que nada nem ninguém devem ocupar o lugar que é devido somente a Deus, e esse lugar é o primeiro e principal, antes de tudo e todos. Por isso o adorador reconhece sua realidade criatural e não se fecha em si mesmo; isso lhe ajuda a ser humilde abrindo-se à ação de Deus em sua vida, buscando incessantemente Sua Face amando-O e amando também o próximo. 
   “A adoração é a primeira atitude do homem que se reconhece criatura diante do seu Criador. Exalta a grandeza do Senhor que nos fez e a onipotência do Salvador que nos liberta do mal. É prosternação do espírito diante do Rei da Glória e o silêncio respeitoso diante do Deus “sempre maio”, como nos diz Santo Agostinho. A adoração do Deus três vezes Santo e sumamente Amável nos enche de humildade e dá garantia a nossas súplicas”. (Catecismo da Igreja Católica, 2628).

   Movidos pelo Espírito todos nós devemos prestar a Deus um culto de adoração, por aquilo que Ele é, por Ele mesmo. “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele prestarás culto” (Mt 4, 10). Para Ele se volta o nosso ser, n’Ele devemos crer e esperar e a Ele amar. Como cristãos o nosso ato de adoração se dirige a Deus, Uno e Trino. Adoramos igualmente ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Na profissão de Fé da Igreja, confessamos no Símbolo Niceno-Constantinopolitano, que adoramos ao Deus que é Uno e Trino: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida [...] e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado [...]”.
          
   Podemos adorar a Deus na nossa oração (pessoal e comunitária), nas boas obras e pequenos sacrifícios que fazemos e sofremos oferecendo-os a Ele, e sobretudo, por excelência,  é o Sacrifício Eucarístico, um ato latrêutico (de adoração) o qual não nos dedicaremos a aprofundar agora. Na Missa oferecemos o culto perfeito de adoração que se dá ao Pai pelo Filho no Espírito, (a Trindade é adorada). Também adoramos Jesus Cristo que está presente real, verdadeira e substancialmente no Santíssimo Sacramento do altar. Por isso a presença do Senhor Sacramentado presente em tantas igrejas no mundo inteiro, nos convida a ir encontrá-lo para adorá-Lo, louvá-Lo e exaltá-Lo; e sem dúvida o Senhor não deixará de derramar sobre nós as Suas bençãos. A ele cantemos, mais também silenciemos e contemplemos, pois as palavras não são suficientes para exprimir essa sublime realidade da presença do Senhor em nosso meio. Mas tudo isso se dá na liberdade e no amor, pois quem muito ama muito dá, ou melhor, se dá; e quem pouco ama, pouco se dá. Amar é "doar-se sem medida”, como nos ensina a maior Santa dos tempos modernos e Doutora da Igreja: Teresinha do Menino Jesus.


   Vivendo no mundo pós-moderno, onde a cultura do ter e do “parecer ser” ocupam o que deveria ser primordial (Deus) na vida do homem, é preciso resgatar na cultura e na vida, a partir dos próprios cristãos, aquela atitude de amoroso reconhecimento e adoração do Deus que é Amor. O homem continua criando para si muitos deuses, substituindo o lugar único de Deus em sua vida.  E quão peculiar é a vida de oração, onde podemos adorar o Deus verdadeiro e saciar a nossa sede e a d”Ele, pois  Santo Agostinho nos diz: “Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele”. Nos ensina também São João da Cruz que ferida de Amor não se cura senão com amor, e Jesus está ferido de amor por nós e nos espera. A adoração, como pensam muitos, não nos tira os pés do chão deixando-nos alienados das ocupações terrenas, ela nos coloca em contato e intima união com Deus e abre-nos às realidades celestes e terrenas, levando-nos a amar a Deus e ao próximo como exigência radical da fidelidade ao Evangelho. Na sua Carta Apostólica Mane nobiscum Domine, somos chamados, pelo saudoso Papa João Paulo II a recostar a cabeça sobre o peito de Jesus, em atitude amorosa de adoração eucarística. É um desafio fomentar na vida dos fieis a importância da adoração eucarística. Como falar disso nos tempos hodiernos? Diante da secularização, globalização, fragmentação e relativismo, como testemunhar? Reflitamos!
   “Quando se fala de Deus, fala-se de um ser constante, imutável, sempre o mesmo, fiel, perfeitamente justo. Daí decorre que nós devemos necessariamente aceitar suas palavras e ter nele uma fé e uma confiança plenas. Ele é Todo-Poderoso, clemente, infinitamente inclinado a fazer o bem. Quem poderia deixar de pôr nele todas as suas esperanças? E quem poderia deixar de amá-lo, contemplando os tesouros de bondade e de ternura que ele derramou sobre nós? Daí esta fórmula que Deus emprega na Sagrada Escritura, quer no começo, quer no fim de seus preceitos: ‘Eu sou o Senhor’.” (Catecismo Romano, 3,2,4).
   Ecoa em nossa mente e coração o que disse Jesus: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 5, 5). Prostremo-nos, então diante d’Ele, entreguemo-lhe a nossa vida e demos honra e glória, louvor e gratidão, e peçamos-lhe que nos dê a sua graça e sua benção “porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos. Amém!” (Rm 11, 36).


Cláudio Amorim 
Seminarista da Arquidiocese da Paraíba