17 de jun. de 2011

Penitência, discernimento e humildade.


Se uma pessoa se penitencia sem discernimento, pondo todo seu afeto na mortificação enquanto tal, até impedirá a sua perfeição.

Quem se penitencia há de valorizar o amor, desprezar a si mesmo, ser humilde, paciente; há de ter todas as virtudes, deve alimentar o desejo da glória de Deus e a salvação dos homens. Essas virtudes mostrarão que seu egoísmo morreu e que perenemente destrói a sensualidade através do amor pela virtude.

É com tal discernimento que se deve praticar a penitência. Em outras palavras: é necessário dar mais importância às virtudes que a mortificação. Esta última será um meio para aumentar as virtudes e será feita de acordo com a necessidade, na exata medida das forças pessoais. Aqueles que consideram as mortificações como essencial, obstaculizam a própria perfeição. Seria esta uma atitude tomada sem iluminação do autoconhecimento e sem a exata consideração a bondade de Deus; estaria fora do reto caminho. Seria uma atitude sem discernimento, que valoriza o que Deus não valoriza, e que não despreza o que Deus despreza. O discernimento consiste num exato conhecimento de si e de Deus; o discernimento enraíza-se nesse autoconhecimento. É como um rebento intimamente unido à caridade [...] a caridade se nutre na humildade [...].

Não existindo esse solo da humildade, o discernimento não seria verdadeira virtude, nem produziria frutos de vida. A humildade brota do autoconhecimento e o discernimento, como já afirmei, consiste num real conhecimento de si e de Deus.

Homem sem humildade é homem sem discernimento. Seu agir baseia-se no orgulho, da mesma forma como todo discernimento vem da humildade. Tal pessoa comporta-se ainda, como um ladrão, enquanto rouba a glória de Deus e atribui a si mesmo, no desejo de engrandecer-se. Em sentido contrário, atribui a Deus o que é absolutamente seu; queixa-se e murmura contra os misteriosos desígnios que Deus realiza em sua vida e na alheia; em tudo acha motivo de oposição a Deus e ao próximo.

Diversamente se comporta quem possui o discernimento. Depois de ter reconhecido o que a Deus pertence, cumpre para com os outros a grande dívida do amor (Rm 13,8) e da oração humilde e contínua, como é seu dever; ensina, dá bom exemplo, auxilia materialmente segundo as necessidades. Quem tem discernimento, qualquer que seja o seu estado de vida – patrão, prelado ou súdito – sempre trata o próximo com amor. 

Caridade e discernimento estão intimamente entrelaçados; ambos se enraízam no solo da verdadeira humildade, sendo esta o fruto do autoconhecimento. [...] O discernimento, enfim, ao fundamentar-se no humilde autoconhecimento, conduz à luta contra os pecados pessoais [...]. 

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Pax et Gaudium

Fonte: Padre Lorenzo D’Andrea. Eis a Tua Mãe. pag 155-156.