18 de jan. de 2011

Esoterismo & Nova Era

Muitas pessoas, querendo fugir do compromisso sério que a fé em Jesus Cristo supõe, acabam caindo no Esoterismo ou na Nova Era (ou nas duas coisas), duas formas de religiosidade inconsistentes que, exatamente por isso, fazem sucesso mundo a fora.


Esotérico vem do grego esoterikós, “o que está dentro”. Essa palavra significa toda doutrina secreta, guardada por uma sociedade e só transmitida aos iniciados. Em todos os tempos houve esse tipo de agremiações. Algumas inspiravam-se no desejo de preservar a pureza de certas concepções que o vulgo “não compreenderia” ou “desfiguraria”; outras eram inspiradas pelo desejo de dominar, pois o detentor do segredos (tecnologias de fundição e trabalho de metais, receitas médicas, ervas medicinais, “revelações” importantes...) gozava de prestígio e garantia muitas vezes uma fonte de receitas.

Nos séculos II e III, a famosa gnose cristã (ou o gnosticismo) foi uma heresia de caráter esotérico. Afirmava possuir doutrinas secretas que Jesus Cristo havia revelado unicamente aos Apóstolos, com a condição de que só as transmitissem aos iniciados. Quem participasse do conhecimento dessas doutrinas, seria privilegiado e estaria seguro de sua salvação. Na verdade, nada há de mais estranho ao cristianismo do que o esoterismo; o próprio Senhor mandou aos Apóstolos: O que vos digo nas trevas, pregai-o na luz; o que ouvis ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os tetos (Mt 10,27). Cristo também ordenou que o Evangelho fosse pregado a toda a criatura (cf. Mc 16,15). No cristianismo, não há “mistérios” reservados a uns poucos privilegiados.

Na Idade Média, houve também sociedades secretas no seio do povo cristão, quer em torno da magia e dos encantamentos, quer da alquimia – que procurava descobrir a “pedra filosofal” e o “elixir da longa vida”. Houve ainda quem cedesse às práticas adivinhatórias, à bruxaria e à feitiçaria. A Igreja condenou esse tipo de ritos, por mais que os respectivos adeptos os quisessem valorizar como se fossem patrimônio recebido de povos antigos, detentores de arcanos importantes para proporcionar felicidade e bem-estar.

No século XVII, apareceram as Fraternidades Rosa-Cruz, que pretendem possuir a sabedoria dos antigos egípcios, transmitida por um certo “Christian Rosenkreutz”, na verdade o pastor luterano alemão Johannes Valentin Andreas (1586-1654), que desmentiu publicamente a veracidade de todos os escritos esotéricos que publicara sob esse pseudônimo. No século seguinte, teve origem a maçonaria moderna, herdeira das corporações de pedreiros da Idade Média, que tinham igualmente os seus segredos profissionais. Os seus primeiros estatutos foram redigidos pelo pastor presbiteriano James Anderson; professavam a existência do Grande Arquiteto do Universo, sem descer a maiores explicitações. No século XIX, a maçonaria se bifurcou em “regular”, detentora dos princípios religiosos da sua origem, e “irregular”, avessa à religião. Mais recentemente, no século XIX, a teosofia apresentou-se como sociedade esotérica, portadora de concepções tiradas dos Vedas, dos Upanishads e do budismo.


NOVA ERA (OU NEW AGE)

O Movimento da Nova Era afirma não ter sua origem em uma pessoa ou um grupo, mas numa “suave conspiração” de inúmeras pessoas, que se sentem sufocadas pelas velhas instituições e pela moral antiquada e, por isso, propõem um “nova espiritualidade” enriquecida com as revelações de seres superiores. Todos os homens estariam convidados a entrar nessa “suave conspiração” para criarem juntos um mundo novo, pacífico e fraterno, como nenhuma outra instituição conseguiu realizar até hoje.

Segundo a astrologia, a “Era do Peixe” teria começado em 21 de março do ano 12 a.C., quando o sol teria entrado no signo zodiacal do Peixe, e em conseqüência teria aparecido o cristianismo, cujo símbolo seria um Peixe; agora, o sol estaria para entrar no signo zodiacal do Aquário, quando começaria uma nova era ou etapa da humanidade, a “era de Aquário”, “Era ecológica” ou “Era solar”. Esse seria o sinal, segundo os autores da Nova Era, de que a religião cristã estaria para ser substituída por uma nova “religião mundial”, síntese das anteriores e promotora de amor, da concórdia e da felicidade. O retorno de Cristo inauguraria essa nova era; já não se trataria, porém, do Cristo do Evangelho, mas de um “Cristo-Avatar” (avatares, segundo o hinduísmo e o budismo, seriam espíritos superiores ou até deuses sob forma humana, enviados de tempos a tempos para instruir os homens), que teria o nome de Maitreya.

A “suave conspiração” teve início na década de setenta, na Califórnia, congregando membros e ex-membros de seitas orientais e dos adeptos da ioga, da meditação transcendental, das “culturas alternativas” hippies, psicodélicas, esotéricas, espíritas, feministas, ecologistas e pacifistas em torno do Instituto Esalen, um instituto de psicoterapia em Big Sur. Não tem estrutura organizativa conhecida, mas apenas alguns “grandes nomes: Shirley Maclaine, Marilyn Ferguson, F. Capra, etc.

Do ponto de vista doutrinal, é uma confusa amálgama de idéias e movimentos diversos. Como características gerais, podemos apontar:

1. O holismo ou a idéia da organicidade do universo. A física clássica de Newton considerava o Universo um imenso mecanismo, uma “máquina”; a Nova Era, em contrapartida, propõem o modelo holístico, segundo o qual o Universo não constaria de partículas em interação, mas de uma grande rede de energias que constituem um todo (holon, em grego), como que um “organismo vivo”. O homem seria parte desse todo, participando da vida orgânica do conjunto; e ser-lhe-ia impossível pôr-se “do lado de fora”, como um observador neutro. Como se vê, a tônica é panteísta.

2. Sincretismo centrado nas religiões orientais. Apesar de se apresentarem muitas vezes como “cristãos”, os adeptos preferem as teses das religiões orientais, uma vez que cristianismo afirma a transcendência de Deus e tem um perfil nítido e um credo definido, não combinando com a “espiritualidade soft” da Nova Era. Os adeptos são estimulados a fazerem experiências “transpessoais” pela música, pela dança e pelas artes, pela meditação transcendental, pelo zen ou até pelas drogas, segundo as quais o “eu” se dilataria a ponto de sentir-se uma coisa só com a energia cósmica e ser capaz de entrar em contacto com os mortos e os seres extraterrestres. Tais experiências podem ser estimuladas pelo uso de drogas e pelo incentivo direto do cérebro.

3. Esoterismo gnósticoCombinando as experiência dos xamãs indígenas com o misticismo oriental, a Nova Era dá grande importância ao channeling (“canalismo”), técnica recebida do espiritismo em que o médium “canaliza” as mensagens vindas não tanto dos espíritos dos defuntos, mas sim de quaisquer “entidades superiores”, como os “extraterrestres”, os “espíritos”, “Cristo”, as “fadas”, o “inconsciente coletivo”. As revelações feitas por essas entidades é que conduziriam o “iniciado” à “salvação”, à “penetração nas esferas superiores”.

4. Terapêuticas não convencionais, “holísticas”, como a homeopatia e a acupuntura.

5. Otimismo universal. A expectativa de uma Nova Era de paz, fartura e felicidade prestes a inaugurar-se corresponde à velha heresia do milenarismo, apregoada também por algumas correntes cristãs dos nossos dias (como o Adventismo).

Como avaliação, é preciso dizer que a mensagem da Nova Era é, de ponta a ponta, contrária à mensagem cristã. Nega a transcendência de Deus, a distinção entre espírito e matéria, a existência do pecado, a divindade de Jesus Cristo, Deus feito homem... Cai no relativismo religioso, fazendo da religião uma atitude sentimental e cega, e não a adesão à verdade. É, como já dizia Machado de Assis dos espíritas do seu tempo, uma “fábrica de loucos”.



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Fontes principais:

Estêvão Bettencourt, Religiões, Igrejas e seitas, Lumen Christi, Rio de Janeiro, 1997
Manuel Guerra Gomez, Los nuevos movimientos religiosos, EUNSA, Pamplona, 1993.



Fonte na web: Quadrante


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